sábado, 16 de junho de 2012

Apoio à Chapa 4: Por que Amigos prefere Mauro Del Pino para reitor


Por Rubens Amador, do Amigos de Pelotas



O segundo turno da eleição para reitor na UFPel se aproxima. Dias 20 e 21 deste mês serão eleitos os novos dirigentes da Universidade pelos próximos quatro anos, a partir de 2013. A escolha precisará, para se confirmar, de referendo do Conselho Universitário (Consun) e do Ministro da Educação.

Pessoalmente, acredito que neste momento o candidato da oposição, professor Mauro Del Pino, diretor do Departamento de Educação, fará mais bem à Instituição do que seu adversário.

Não possuo objeção pessoal ao candidato da situação, atual vice-reitor Manoel de Moraes, de quem ouço boas referências, embora eu tenha formado um juízo negativo sobre o gestor César Borges, reitor atual. É certo que Moraes possui qualidades, e desejo, se for o escolhido, que faça uma gestão profícua, transparente, aberta ao diálogo, planejada, sem confrontos com a lei, ao contrário do que faz o reitor atual.

Como se sabe, Borges acaba de ser desautorizado pelo Ministério da Educação quanto à transação da compra de imóvel do Anglo. Pressionado pelo MEC, terá de devolver quase R$ 5 milhões milhões que pegou do governo federal e que não se sabe exatamente onde foram parar (leia mais).

Além disso, Borges acaba de ser condenado a quatro anos e meio de prisão (em regime semi-aberto, podendo dormir em casa) e à perda do cargo + multa de R$ 34,5 mil, por ter cometido crime federal (leia mais).

Achei por bem tornar pública, simbolicamente, declaração de voto do Amigos de Pelotas, neste segundo turno, no professor Mauro, por alguns motivos.

1) Em primeiro lugar o óbvio: os resultados do primeiro turno provaram que a maioria da comunidade acadêmica deseja mudança. A oposição, composta por cinco chapas, venceu com 65% dos votos. O postulante da situação teve 29% dos votos.

2) A renovação no poder é benéfica, pois injeta oxigênio puro nos espaços, evapora vícios incrustados. Estamos falando de oito anos de gestão de um mesmo reitorado. Com a renovação, posições de hierarquia podem se inverter, mostrando que a instituição está acima de cargos e pessoas, evitando que estas se julguem 'donas da situação'. Em oito anos no cargo, diga-se, o reitor Borges acabou misturando público e privado, segundo o Ministério Público Federal, reportagens do Amigos e de Zero Hora, chegando a pagar contas pessoais com dinheiro da Fundação de Apoio Universitário (FAU). Eis um absurdo em homem público que, para ele, se tornou corriqueiro, ao ponto de pagar mais de mil reais em espumantes com dinheiro do contribuinte, além de outras despesas em livrarias, cafés, restaurantes etc.

3) Uma das marcas da gestão Borges/Moraes foi o estado permanente de conflito com Ministério Público Federal e a lei. Além da sentença de prisão e de perda do cargo, e do caso do negócio do Anglo desautorizado pelo MEC, Borges foi denunciado por outras infrações. Algumas parecem pirraça. Um dos despojos do enfrentamento à lei encontra-se visível ao público: trata-se da placa gigante que Borges mandou instalar na fachada do Grande Hotel, agradecendo aos vereadores por terem autorizado a doação do prédio municipal à Universidade (vereadores que, por sinal - veja como são as coisas - outro dia assinaram moção de solidariedade ao reitor condenado pela Justiça). A legislação diz que gestores públicos só podem gastar em anúncios com objetivo de informar - não de fazer publicidade de autoridades. Diga-se que Borges mandou instalar a placa logo após ser condenado por crime semelhante. Em março, a Justiça determinou a execução de sentença que condenou Borges, por improbidade administrativa, a pagar R$ 63.998,30 por ter autorizado a veiculação de peças publicitárias de promoção pessoal, com dinheiro da UFPel, em jornais de Pelotas e da região. Durante esse tempo, o vice-reitor Manoel Moraes não conseguiu ser uma voz no sentido de conter os excessos de reitor. Por conta disso, e de ter permanecido no cargo quando poderia tê-lo abandonado (por discordar da gestão), Manoel mostra que concordou com a gestão do colega Borges.

4) A UFPel precisa neste momento de um reitor idealista, de um homem de ideias e de diálogo, qualidades que Mauro Del Pino possui. Doutor em Educação, ele tem no diálogo uma prerrogativa de vida e trabalho. Nas mãos de Borges e de Moraes, a UFPel cresceu desordenadamente, sem transparência e sem discussão com a comunidade acadêmica dos melhores caminhos para a instituição. Resultado, a Universidade inchou. Ganhou milhares de novos alunos, comprou e alugou prédios por conta disso, mas se esqueceu de investir em salas de aula, contratação de professores, de técnicos, em equipamentos.

5) O 'pragmatismo' na gestão atual significou não apenas enfrentar e até romper com a lei, mas aceitar as políticas federais de expansão de vagas na Universidade sem estabelecer condições de planejamento para tal, como fizeram, por exemplo, a UFRGS e a Universidade Federal de Santa Maria. O resultado é o que vemos: falta de estrutura, o que ocasionou greves e protestos de estudantes ao longo dos anos. Um dado triste: não há como trazer à tona o número de estudantes de outros estados que desistiram da UFPel ao se depararem com a falta de condições de ensino. É evidente que o Brasil precisa expandir o número de vagas no ensino superior, mesmo porque o volume de alunos que completam o ensino médio aumentou muito, mas não de qualquer maneira, a rodo, como se tem feito. Eu acredito que Mauro Del Pino, vindo da área da Educação, será mais sensível a este ponto, criando um modelo de expansão planejado e consequente. Mauro é um intelectual, no bom sentido da palavra, o que o credencia não só a dialogar com os setores da Universidade, mas a articular e construir os anseios e realizações de baixo para cima e não ao contrário, como se tornou marca da atual gestão.

6) Em democracias avançadas, é comum veículos de imprensa e jornalistas abrirem ao público sua preferência e seu voto em candidatos e partidos. No Brasil, vimos isso pela primeira vez na revista Carta Capital, quando declarou voto no então candidato Lula e depois em Dilma. Para o diretor da publicação, Mino Carta, é mais honesto com os leitores explicitar a posição do veículo. Ele justificou seu gesto alegando, ainda, que não existe a tal da imparcialidade na imprensa (e nunca existiu mesmo), apesar de no Brasil ainda se cultivar o mito da objetividade da notícia inventado pelos americanos. Um mesmo fato, descrito por três repórteres, resultará em versões diferentes, pois as narrativas são perpassadas por códigos morais, éticos e estéticos de seus autores, revelados na escolha das palavras, na ordem dos parágrafos, no título, na forma. Mino Carta está certo. Um exemplo caseiro... Existe imparcialidade na imprensa tradicional pelotense? É óbvio que não. Mas, em vez de anunciar suas posições com clareza, os veículos desse naipe as omitem, escondendo suas reais intenções, manobras e silêncios atrás da cortina de fumaça da imparcialidade. Melhor fariam se assumissem, claramente, suas posições, em geral afinadas ao interesse dos donos do poder e do capital - dinheiro. Ao abrir minha preferência em Mauro Del Pino, faço-o para comprovar que somos parciais - nós sempre tivemos a opinião exposta, como um nervo e sempre assumimos isso. Penso que assim é mais justo com o leitor, que sabe o que pensamos. Aproveitando, é bom relembrar a natureza desse estranho ofício chamado Jornalismo, pois alguns cidadãos parecem que não percebem a finalidade essencial dessa nobre atividade. Os três elementos básicos do jornalismo são: 1) Buscar a verdade, com fidelidade canina, como repete Carta; 2) Fiscalizar o Poder Público; 3) Exercitar o espírito crítico. Para isso é que existe imprensa, embora possa agregar coisas como o entretenimento. Sem aquelas três condições, porém, não se faz jornalismo. Um jornal que não pratica aquelas premissas faz comunicação, mas não jornalismo.

7) O fato de o Amigos preferir Mauro Del Pino para reitor não quer dizer que o defenderemos ou que atacaremos o adversário. Cabe à comunidade acadêmica decidir o melhor caminho para a Universidade. Se não for Mauro o eleito, para nós a melhor opção, que Manoel Moraes surpreenda a todos com uma gestão moderna, com sua própria feição, com independência em relação a César Borges e à herança maldita que certamente insistirá em se manter viva em torno da reitoria.

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