quarta-feira, 27 de junho de 2012

DO MOVIMENTO RECONSTRUÇÃO À COMUNIDADE DA UFPEL



O processo eleitoral de consulta à comunidade para escolha de Reitor e Vice-Reitor da UFPEL, encerrado no último dia 22 com a proclamação do resultado pela Comissão Eleitoral, já é parte inesquecível da história da UFPEL. A apresentação livre e franca de propostas, as passagens e conversas em salas de aula e corredores, os debates, os documentos das campanhas, a livre expressão de apoiadores e eleitores, o vento de liberdade e de democracia que soprou em todos os campi, em todos os prédios, em todas as salas... tudo isso trouxe vida à UFPEL, trouxe de volta o ar de UNIVERSIDADE que todos buscamos, de espaço de construção de conhecimento, de liberdade de expressão, de debate pluralista.

Isso foi possível porque a comunidade acadêmica chamou a si a responsabilidade de soprar este vento, inflando as velas da democracia. Os atores coletivos desse processo foram numerosos e efetivos e devemos agradecer reverentemente cada um deles:

às entidades representativas das três categorias (ADUFPEL, ASUFPEL e DCE), que tomaram a si a decisão e a responsabilidade de organizar o processo de consulta;
aos membros do Conselho Universitário que, procurados, foram sensíveis e se comprometeram em acatar a decisão da consulta;
à Comissão e à Junta Eleitoral, que sem medir esforços, com competência absolutamente demonstrada e  com lisura reconhecida por todos os candidatos, soube dirigir um processo auto-regulamentado, em que o cumprimento das regras depende de elevado compromisso moral de todos os participantes; 
aos candidatos e apoiadores de todas as chapas que, apresentando suas propostas, e em meio aos conflitos normais de um processo democrático, expressaram com franqueza suas posições sobre o que consideravam que fosse o melhor caminho para a UFPEL; 
à comunidade acadêmica que massivamente compareceu às urnas, por duas vezes, deixando claro seu desejo de escolher de forma participativa os rumos de nossa universidade. 

Quase a totalidade dos docentes e técnico-administrativos votaram; um enorme número de estudantes também – mais de 8 mil no primeiro turno, quase 7 mil no segundo turno! E para nós isto é uma expressão inequívoca da sede de democracia de que sofre a UFPEL.

A Chapa 4 – Movimento Reconstrução – representada pelos candidatos Mauro Del Pino (Reitor), Carlos Mauch (Vice-Reitor), Denise Gigante e Gilson Porciúncula (membros da lista tríplice), foi eleita com 52% dos votos válidos do segundo turno.

Acreditamos – assim como aqueles que votaram na Chapa 4 no primeiro turno – que tínhamos, sim, as melhores propostas e os melhores candidatos, bem como um grupo comprometido e dedicado de militantes sociais, coesos em torno do programa da “Reconstrução”.

Mas temos a absoluta clareza de que nossa vitória só foi possível porque um grande contingente de apoiadores das outras chapas de oposição compreendeu que entre a continuidade do modelo atual de administração e a possibilidade da mudança, a segunda opção era a melhor, ainda que seus candidatos e suas propostas não estivessem disputando o segundo turno. 

Queremos então agradecer a ambos: àqueles que confiaram em nós desde o começo, e àqueles que se somaram a nós no segundo turno, dando-nos um valioso e inestimável crédito, que temos certeza (e queremos que essas pessoas também tenham) que saberemos valorar. 

As comunidades dos polos a distância não puderam participar, ainda, em seus territórios. Mas reiteramos nosso compromisso de lutar para que também isto seja mudado. 
Durante quase três meses o assunto da comunidade universitária foi... a universidade. Opiniões e manifestos, críticas e réplicas, declarações apaixonadas de apoio ou de reprovação, ponderações e cálculos, argumentos e silêncios significantes foram parte do mosaico colorido e móvel de um processo de soma, de mistura, de síntese de uma comunidade de mais de 20 mil pessoas em busca de um destino comum melhor para todos.

Os estudantes, com suas vozes espalhadas pelos campi e com suas letras nas redes virtuais, sacudiram a eleição com a força de um terremoto, com a paixão que a juventude empresta a cada ato que realiza. Docentes e técnicos, por sua vez, participaram massivamente do processo, votando quase 100% das categorias. A candidatura da Chapa 4, no segundo turno, recebeu quase a metade dos votos entre docentes (43%) e técnicos (46%), e entre os estudantes alcançamos 68%, demonstrando que a participação de todos faz, sim, toda a diferença. Desconsiderada a ponderação dos percentuais das categorias, do total de 8.882 votos depositados, 5.376 foram dados à chapa vencedora. 

O Movimento Reconstrução começará desde agora a cumprir seu compromisso de diálogo: ainda durante o segundo semestre iniciaremos os contatos com todas as forças organizadas da comunidade – ADUFPEL, ASUFPEL, DCE, demais chapas de oposição, unidades acadêmicas e administrativas, com todos os movimentos organizados na UFPEL –, enfim: queremos resgatar todas as propostas que, sendo coerentes com o programa eleito, possam ser a ele agregadas, garantindo na máxima medida possível a ampliação de sua representatividade. Antes mesmo da posse do novo Reitor, queremos inaugurar como prática fundadora, como marca da nova gestão, o diálogo – o saber ouvir e o saber dizer, que pressupõe de nós, ao mesmo tempo: humildade, firmeza de princípios e flexibilidade.

Reafirmamos nossa prioridade em torno dos quatro eixos fundamentais de nosso programa: a gestão democrática, a busca incessante da qualidade acadêmica, a construção das condições para o desenvolvimento de pessoal técnico e docente, o compromisso da UFPEL para com a comunidade de nossa região e para com a sociedade brasileira.

Dois elementos da conjuntura momentânea devem ainda ser tocados. 
Primeiro, queremos manifestar nosso irrestrito apoio às lutas dos servidores docentes e técnicos, em suas pautas de reivindicação e mobilização, bem como às pautas específicas dos estudantes, que se somam ao processo. Convocamos a todos a participarem da luta com o mesmo empenho que dedicaram ao processo eleitoral de consulta à comunidade.
Em segundo lugar, queremos lembrar a todos que o processo de escolha do Reitor ainda está longe de terminar. Vem agora o momento mais decisivo: o referendo do Conselho Universitário à decisão expressa nas urnas. Convocamos a todos a acompanharem atentamente este processo, a dialogarem com os representantes das unidades no CONSUN, a participarem das mobilizações que virão, enfim, a garantir democraticamente a vitória da democracia!

Uma UFPEL democrática, autônoma e de qualidade social é algo com que todos sonhamos. O mutirão para fazer desse sonho uma possibilidade real está recém começando e todos nós estamos convidados a participar dele, desse mutirão para uma reconstrução democrática, esperançosa, cooperativa, dialógica, criativa, desse mutirão de todas as vozes e de todas as cores que cabem na UFPEL. Um mutirão em que a diferença e a discordância não serão abafadas e onde os conflitos serão considerados parte normal de um processo de visões plurais; um mutirão onde a diferença será festejada como instrumento de luta contra a desigualdade e como símbolo da universitas, da comunidade de saberes que se constrói em meio ao debate livre e soberano. 

Voltamos ao Reitor Amílcar Gigante, que dizia que“uma universidade pode ser afetada por vários tipos de pobreza. Não pode jamais ser pobre de esperança, carente de ousadia, desprovida de vontade”, e afirmamos, cheios de alegria, que a UFPEL, neste aqui e agora, dá passos para tornar-se “gigantemente rica”. Aproxima-se o tempo de uma UFPEL em que o diálogo vai derrotar o medo para quê, com paciência, trabalho e vontade, caminhemos em direção a um horizonte que ainda nos cabe definir qual será, mas que certamente será decidido de forma coletiva e solidária.

Movimento Reconstrução

3 comentários:

  1. Bem bonito o texto, parabéns aos redatores. Quanto as ideias, fica meu igual elogio e a esperança de que possam concretizar-se para que a UFPel possa ser realmente Gigante!

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  2. Belíssimo texto! Fico feliz por ter sido protagonista desse processo que iniciou em 1984, quando integrei a lista sextupla encabeçado pelo Prof Aldyr Garcia Schlee, junto com outros brilhantes colegas. Retomo a vibração adormecida, por ter cumprido um papel fundamental na indicação do nome do saudoso Prof Amilcar Gigante, nosso sempre Reitor, eleito em 1988, tendo o Prof Luis Henrique Schuch como vice. Renovo a alegria de ter integrado o Grupo CONSTRUÇÂO com outros fabulosos companheiros de luta. Fico lisonjeado por ter sido resgatado politicamente, depois dos nossos tropeços em 2004, quando concorri junto com o Prof Mauro Del Pino, integrando o Grupo UFPEL VIVA, ao lado de tantas pessoas importantes. Particularmente neste segundo turno, sinto que colaborei de forma decisiva para a vitória do Grupo RECONSTRUÇÂO, constituindo-se num dos momentos mais expressivos da minha militância em todas essas lutas históricas e momoráveis. Parabéns aos novos protagonistas desta bonita história de democratização da UFPel, que ora se reinicia. Neste momento de glória é importante resgatar muitos companheiros e companheiros, que não estão mais entre nós, por diferentes motivos. Obrigado a todos e todas que votaram, nestes trinta anos de lutas, pela CONSTRUÇÂO deste momento, em que estamos vivendo a oportunidade da retomada, interrompida há vinte anos, da RECONSTRUÇÃO da UFPel.

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